Através de um estudo etnográfico sobre o processo de registro civil de crianças indígenas em diálogo com a etnologia sul-americana e com a produção contemporânea sobre gênero e parentesco, o projeto visa refletir sobre o próprio conceito de parentesco, tal como “normalizado” pelo Estado brasileiro. A questão central a ser trabalhada será o formato de “família” acolhido pelo Estado em contraste com o formato de “família” experimentado pelos coletivos indígenas amazônicos contemporâneos no geral e, em particular, aquelas formuladas por um conjunto de comunidades do povo Jarawara. Atualmente, alguns benefícios oferecidos pelo Estado - como bolsa família e salário-maternidade; e especialmente a vontade de frequentar a escola municipal -, faz com que as/os jovens indígenas desejem e precisem obter os documentos oficiais de identificação civil (RG, CPF, titulo de eleitor e as vezes carteira de trabalho). O procedimento para a obtenção destes documentos é feito pelos/as próprios/as interessados/as, sobretudo as mulheres e seus filhos/as. Diversos ‘problemas’ são colocados, por exemplo, às mulheres jarawara durante o processo de registro civil. Muitos destes ‘problemas’ derivam da própria incompatibilidade entre aquilo que elas consideram como “parente” e o modelo oficial. Através da criatividade política das mulheres jarawara para registrar seus/suas filhos/as, o projeto pretende, de forma reversa, refletir sobre o conceito de família e de parentesco proposto e “normalizado” pelo Estado brasileiro, procurando descrever alguns dos pressupostos por trás do nosso, não tão banal, registro de filhos/as - como por exemplo, os ideais simbólicos, pautados em uma certa noção de ciência, contidos nos termos ‘pai’, ‘mãe’, ‘avós’, ‘cônjuge’, entre outros.
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Linha de pesquisa: Questões Ameríndias Contemporâneas.