Juliana Oliveira Silva

Mercadorias e dinheiro entre povos indígenas de recente contato: um novo contexto para o estudo da indigenização dos bens

Esta proposta de pesquisa visa contribuir com o arcabouço teórico e etnográfico dos estudos sobre indigenização das mercadorias e do dinheiro entre povos indígenas contemporâneos na Amazônia. Isso será feito através de uma análise etnográfica da implementação de protocolos criados pelo Estado, através da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), entre dois povos considerados como de “recente contato”: os Korubo falantes de língua Pano, da Terra Indígena Vale do Javari (AM) e os Zo’é, falantes de língua Tupi-Guarani, da Terra Indígena Zo’é (PA). Esses protocolos distintos regulam o acesso desses povos às mercadorias e ao dinheiro e, por conseguinte, impactam suas redes de relações com diferentes setores da sociedade nacional e com seus vizinhos indígenas. O material etnográfico sobre os Korubo já foi coletado durante a pesquisa de doutorado, entre 2019 e 2020 (Silva 2022). A atual proposta considera que, a partir dos dados etnográficos já coletados, das propostas teóricas de Marshall Sahlins (1972; 1992) e Peter Gow (1991; 2007) e de uma pesquisa etnográfica entre os Zo’é, será possível colaborar com uma área de pesquisa já consolidada, mas que demanda novas etnografias das transformações indígenas contemporâneas, especialmente focando a relação entre políticas públicas e políticas indígenas. Essa pesquisa abordará dois contextos em que é notória a criatividade indígena na incorporação e indigenização de mercadorias. No atual contexto brasileiro, em que políticas de desenvolvimento contraditórias são propostas aos povos e comunidades amazônicas, será essencial desenvolver uma análise que evidencie os desafios que as relações com mercado, monetarização e consumo de bens industrializados representam para esses povos, aprofundando a etnografia dos equívocos existentes entre as concepções estatais como as de “necessidades materiais”, e o que os indígenas pensam a respeito do que é “riqueza” e “valor”, e como eles vem movimentando os bens dos brancos em acordo com seus modos distribuição e consumo, valorizando seus próprios protocolos de relações sociais adequadas.

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