A borboleta dos Xikrins
A apresentação ilustrará algumas reflexões sobre aspectos das teorias da complexidade, no bojo das discussões recentes de etnologia ameríndia. A imagem da borboleta, como ícone das teorias da complexidade, fornece uma imagem visual das constantes evoluções de significados associadas a processos como a produção de sujeitos, a formação de redes relacionais entre coletivos, dinâmicas e desdobramentos de praticas e retóricas que constroem múltiplos significados acionados. Baseando-me nos dados etnográficos que produzi junto aos Xikrin da TI Trincheira Bacajá, quero pensar as formas através das quais seja possível entender o sistema como uma forma de "mente" no sentido batesoniano. Observar a realidade vivenciada cotidianamente utilizando a ideia de "mente" como princípio explicativo, permite colocar os agentes no âmbito de uma rede dinâmica que continuamente os desloca mantendo uma coerência interna ao próprio sistema. A dinâmica do sistema pode por sua vez ser observada utilizando-se de instrumentos derivados da epistemologia dos sistemas adaptativos. Dessa forma, elementos do vivido como o ritual do "tirar maribondo", o processo de introdução e circulação de nomes, os discursos míticos e as trajetórias de relação entre "humanos" e "não-humanos" podem ser encarados como sistemas dinâmicos, os quais voltam a um ponto próximo do ponto inicial do movimento, mas que nunca é o mesmo, pois apresentam uma sensibilidade às condições iniciais. A vantagem dessa interpretação pode ser observada principalmente no plano da necessidade de observar a natureza das conexões locais e humanas, levando a serio a agência de cada ator, de inferir as relações com a produção do vivido, seja no plano das praticas como dos discursos, e enfim de dinamizar as propriedades emergentes dos sistemas, nas formas de permanências e inovações dos sistemas sócio-culturais.
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