Guilherme Meneses (Doutorando PPGAS-USP)
Nixi pae como tecnologia de conectividade
Nesta apresentação propõe-se descrever múltiplos aspectos de um recente movimento em torno das chamadas "medicinas da floresta", principalmente o nixi pae (ayahuasca) dos
Huni Kuĩ (Kaxinawá). A proposta inclui o acompanhamento de trânsitos contínuos entre a "floresta" e a "cidade" do próprio nixi pae, dos chamados pajés e de grupos ayahuasqueiros emergentes, evidenciando conexões e conflitos ontológicos. Uma contribuição significativa deste trabalho pode residir em alimentar reflexões no campo ayahuasqueiro a partir de uma proposição cosmopolítica (Stengers, 2007), que buscará tomar o nixi pae como uma tecnologia de conectividade. Assim, espera-se desdobrar a semântica de termos como "cura" e "medicina" por meio da pragmática dos coletivos (de pajés, substâncias, espíritos) em ação: que efeitos estes geram quando agem em rede, o que movimentam, o que fortalecem, o que é deixado para trás. O nixi pae aparecerá então como peça-chave na ativação de coletivos ontologicamente heterogêneos, abrindo possibilidades para encontros com a alteridade em tentativas de composição de espaços de coexistência.
Rafael Hupsel (Mestrando PPGAS-USP)
Modos de ver, modos de ser: imagens de uma etnografia da experiência com a ayahuasca
Proponho apresentar algumas considerações sobre os sentidos da experiência com a ayahuasca para os integrantes de um grupo urbano que utiliza esta bebida em seus rituais. Inserindo-o dentro do processo de transformações e reinvenções que vem ocorrendo nas últimas décadas no campo ayahuasqueiro, pretendo descrever o percurso de uma etnografia realizada durante as ocasiões em que o grupo prepara a beberagem e que utiliza a fotografia como principal tema de interlocução. Ao discutir sobre as possibilidades do uso da fotografia enquanto escrita etnográfica, aponto como uma linguagem demasiadamente calcada no referente indicial e na estética documental – à maneira como ela é amplamente utilizada pela nossa disciplina – tornou-a insuficiente para que eu pudesse abordar o aspecto visionário da experiência com a ayahuasca vivenciada pelos integrantes do grupo. Para tanto, apresento uma série de experimentações fotográficas baseadas em desenhos feitos pelos meus interlocutores a partir de suas visões, refletindo como elas permitem abordar aspectos significativos presentes na cosmologia deste grupo, como o trânsito entre realidades distintas, suas concepções do que é xamanismo, a ontologia dos espíritos incorporados na ayahuasca e a presença da imagem do indígena nas suas narrativas fundantes.
Rua do Anfiteatro, 181 - Colmeia, favo 8