Maria Luísa Lucas (Doutoranda, PPGAS/MN/UFRJ)
Uma das faces da aurora: o caminho de um ritual bora depois do caucho
É notável que uma das atividades extrativistas que mais impactou a Amazônia foi a borracha. Apesar de todas as regiões onde a extração de gomas foi o motor de transformações radicais, os povos indígenas localizados entre os rios Caquetá e Putumayo (atual Colômbia) foram talvez os mais violentados. Um deles, os Bora, são os interlocutores em minha pesquisa de doutorado, já em fase de conclusão. Ainda que os dados do começo do século XX sejam imprecisos, lendo as informações de maneira otimista, os Bora na Colômbia, na segunda metade do século XX, são menos de 10% do que eram nos anos 1900. Aos sobreviventes do caucho, como se reconhecem, foi necessário buscar maneiras de continuar existindo em um mundo intensamente transmutado. Nesse contexto, como garantir o funcionamento das unidades políticas e da transmissão do conhecimento? Essa questão é a chave de minha tese em elaboração. As respostas, por sua vez, são múltiplas e passam pela exploração de um complexo sistema de adoções no qual as hierarquias de nascimento, o lugar do órfão e a assimetria entre os clãs são fundamentais. Minha apresentação, contudo, pretende concentrar-se em um aspecto pontual da "estratégia" dos Bora no pós-caucho: a recuperação e a reelaboração, a partir dos anos 1980, do ritual Llaaríwa, um dos mais importantes em razão da transmissibilidade dos nomes de liderança e de sua relação próxima com a Garza Blanca, personagem mítico central para a compreensão das relações comerciais entre os Bora e o ocidente.
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