Dagoberto Lima Azevedo – Yepamahsã (Tukano) e Doutorando pelo PPGAS/UFAM
Agenciamento do mundo pelos Kumuã Ye'pamahsã: o conjunto dos Bahsese na organização do espaço Di'ta Nuhku
Nesta apresentação abordarei aspectos da minha dissertação de mestrado sobre a organização e o cuidado do espaço Di'ta Nuhku (terra-floresta), a partir do conjunto dos bahsese no Alto Rio Negro - Noroeste Amazônico. Dos domínios de conhecimento dos kumuã Yepamahsã, isto é, da tríade conceitual e cosmológica que envolve kihti ukuse, bahsese e bahsamori, delineio uma proposta que abarca principalmente o bahsese. Procurarei demonstrar como a prática dos bahsese classifica e ordena, equilibra e sustenta os seres e as coisas no espaço Di'ta Nuhku. De modo geral, abordo como o pensamento Yepamahsã mantem uma circulação ordenada e harmônica e o bem-estar entre os seres sob a plataforma terrestre. Conhecimentos, esses, portadores de uma reflexão particular sobre instituições e formas de vida Yepamahsã, indissociáveis do princípio da dignidade da pessoa humana.
Sou indígena Yepamahsã (Tukano), estudante e pesquisador de antropologia no espaço acadêmico. Escrevi minha dissertação em portuguê-acadêmico e em Yepamahsã (ou Yepa-português), defendida em 2016 na Casa de Saberes da FOIRN, em São Gabriel da Cachoeira. Falarei das tensões, desafios e possibilidades da minha experiência de pesquisa, pois sou nascido e vivencio a minha cultura yepamahsã desde a infância até a idade atual. Não é uma questão de "estive lá".
João Paulo Lima Barreto – Yepamahsã (Tukano) e Doutorando pelo PPGAS/UFAM
Centro de Medicina Indígena & Biomedicina na faca: do imaginário ao conflito ontológico entre os modelos de concepções de doenças e saúde
A apresentação visa basicamente discutir o imaginário construído pelas sociedades sobre "índio" e o conflito entre o modelo biomédico e concepções indígenas de doenças e saúde na região do Alto Rio Negro/AM. Modelo que considera que doença e saúde não se restringem ao aspecto biológico. Esse é o ponto. Antes, ao contrário, envolvem aspectos cosmopolíticos que condicionam a prática da boa saúde. Sai, assim, do entendimento restrito de algo biológico e conecta o indivíduo numa teia de relações com outros seres, com os waimahsã, com os animais, os especialistas, com seus parentes e outras pessoas.
O Bahserikowi – Centro de Medicina Indígena da Amazônia foi fundado no dia 06 de junho de 2017. Conta com a parceria da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), do Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena (NEAI/UFAM), além do apoio da agência Amazônia Real. O objetivo é oferecer a oportunidade para as pessoas que acreditam que as doenças e a saúde perpassam por outras vias de preventivos e de tratamentos. Assim, o Centro de Medicina Indígena é mais uma opção, um canal que possibilita ao público um tratamento por vias de bahsese (benzimentos) e plantas medicinais. Também é um espaço de diálogo com outros saberes e de intercâmbio cultural. Desde a fundação até hoje já passaram mais de 920 pessoas, com diversos problemas de saúde como doenças de pele, situações emocionais, doenças urinárias, gástricas, uterinas, feridas e coceiras no corpo, dores no corpo; fazendo consultas e tratamentos. Por outro lado, o Centro faz parte de um dos objetivos do Termo de Acordo de Cooperação Técnica entre o NEAI/UFAM e o Centro de Estudos Ameríndios (USP), no quesito de "Apoiar a institucionalização, atividades e gestão do Centro de Práticas Médicas Indígenas implementado em estreita relação com o NEAI".
Gabriel Sodré Maia-Ahkʉto - Mestre em Antropologia Social-UFAM
Yepapologia, um novo modo de ser e pensar
O sistema de repasse do conhecimento dos Yepamahsã sempre foi feita a partir da oralidade, porém no decorrer do tempo este mecanismo de repasse foi se perdendo paulatinamente, Os primeiros religiosos diziam que, quando alguém morresse estava destinado ao fogo eterno do inferno. Assim sendo alguns velhos e que conheciam a escrita foram grafando voluntariamente amiúde preocupado que o conhecimento não desvanecesse e que os filhos e os netos não fiquem desapoiados sobre o âmago do conhecimento dos Tukano que é Ukũse-kihti, bahsese e bahsamori. Portanto, surge na academia novo conceito intitulado YEPAPOLOGIA, que visa dialogar com exclusividade o vasto conhecimento dos Yepamahsã. Os detentores dos conhecimentos são os velhos (bʉhkʉrã) kumũ, yai, baya e bahsegʉ, os alicerces de uma comunidade especialista em memorização, uma das dádivas adquiridas por meio de betise no momento de formação em sua especialidade. Os filhos e os netos não tiveram os mesmo privilégios da formação, por causa da invasão da "civilização". Com a civilização chegou também a tecnologia, esse, foi um período de adaptação entre os mais jovens e os mais velhos, ou seja, a fase da crise cultural. Esta fase transitória criou nos jovens o desinteresse de adquirir o tripé do conhecimento dos Yepamahsã. Mas no decorrer do tempo a situação foi superada por meio do diálogo de orientação entre os filhos e os pais dentro do circulo familiar, da busca de um novo equilíbrio entre elementos do novo modo de vida e das tradições Yepamahsã (adaptação) e enfim pelo uso da escrita como novo meio de memorização e transmissão entre pais e filhos dos conhecimentos ancestrais dos Yepamahsã. Doravante, o conhecimento dos Yepamahsã encontra-se aberto para diálogo simétrico dentro do mundo acadêmico, um dos requisitos da luta dos antropólogos indígenas e indígenas antropólogos, isto é um desafio árduo, que será possível cumprir com esforço e determinação. Trata-se de propor a contribuição de uma antropologia indígena para o conjunto de ideias e conceitos da antropologia "tradicional" - que distorceu algumas vezes por equívocos de tradução e por falta de uma interlocução íntima e profunda com os agentes de suas monografias, fatos importantes - e de convencer, através do debate e do diálogo com os acadêmicos não indígenas do valor dessa contribuição. Em suma surgem nas academias os Yepapólogos.
Rua do Anfiteatro, 181 - Colmeia, favo 8