ETNOGRAFIA EM TEMPOS DE BELO MONTE: REFLEXÕES SOBRE PESQUISA E POLÍTICAS INDÍGENAS COM OS XIKRIN DO BACAJÁ
Desde 2009, tenho acompanhado as e os Xikrin do Bacajá em suas lidas no que concerne a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, que impacta o seu rio, afluente do Rio Xingu em sua Volta Grande, onde está a denominada Vazão Reduzida da obra. Com a seca do Xingu, o Bacajá também tem secado, impactando suas terras e sua vida. A palestra abarca dois pontos principais: o primeiro, que se pode definir como metodológico, trata dos impactos na relação da antropóloga com esse povo, que completa três décadas, tendo efeitos no fazer etnográfico; discuto que, para além do aparentamento vivenciado até então, pelo qual se dedicaram a modificações em meu corpo, na minha alimentação, e a esforços de ensino para que eu pudesse efetivamente aprender e ser uma voz para aqueles que não costumam lhes ouvir, passei a vivenciar com eles, frente a inúmeras derrotas e lutas, uma alternância entre aparentamento e inimização, que busco demonstrar ser o tipo de relação de alteridade que lhes define, ao se fazer e a outros, ora Mebengokré, ora inimigos. Na segunda, que se liga diretamente à primeira pela expectativa delas e deles de que eu pudesse atuar como sua parceira, trato do modo como eles passam da guerra à política, em seus confrontos com o Estado, a empreendedora e seus serviços terceirizados, o MPF, dentre outros, desde o processo de licenciamento até a operação da Usina, refletindo sobre os modos diversos de se fazer política e uma reflexão, com eles, sobre as limitações das políticas dos kuben, os não-indígenas, que falham em lhes ouvir e são ineficazes nas respostas a suas demandas. Portanto, desde a limitação em admitir os conhecimentos indígenas sobre os impactos nos rios e em suas terras, até o modo como estas instâncias têm atuado, passando pela ética na política, acompanho os Xikrin em suas novas percepções do que seja o Estado e a política não-indígena, e em como têm atuado na busca de reinventar um modo guerreiro de fazer política.