Mesa 1: 9h-11h
Mesa 2: 11h - 13h
Diversidade, Contradomesticação, Feminismo e História da Floresta
"A virada do milênio vem se acompanhando de reviravoltas a um só tempo ontológicas, epistemológicas e políticas. Modos próprios de ser exigem modos próprios de conhecer e agir. Animais, objetos tecnocientíficos e artísticos, espíritos e éteres, plantas. As plantas, mil
maneiras de escutá-las desde sempre, mas agora sob constrangimentos de vida e morte inéditos em escala e velocidade. Um mundo que perde a paciência, diante da confusão do relógio com o tempo, do crescimento com o desenvolvimento. A grande domesticação modernizadora na berlinda. O atalho célere dos agrotóxicos e o caminho compassado da permacultura e da roça de coivara. Mas quem mesmo domestica quem? Quem mesmo faz
e é feito? Espécies convertidas em multiespécies, evolução em co-evolução. O local em franca continuidade com o global.
Urge ouvir as vozes vegetais tão diversamente traduzidas. A esfinge de um planeta respondente põe o enigma do decifra-me ou te devoro: seguir dobrando uma natureza mais e mais múltipla e indeterminada (por isso mesmo tão perigosa quanto auspiciosa) ou desenvolver artes de dobrar-se com ela? Com quem e de que modo aprender a revisar os vínculos com as plantas? Haverá tempo no fim dos tempos?
Ao modo das plantas, há pressa em vegetar. O que temos nós a aprender com elas? Plantas são trilha e morada de outros seres. Humanos colhem e pássaros bagunçam os frutos. Abelhas fazem festa nas flores. Galhos se comunicam com o vento, raízes com as hífas,
sementes pegam carona nos fluxos e asas. Vegetar é crescer em contiguidade com o mundo, co-habitar lugares e aderir espaços, engajar-se com aquilo que nos circunda. Criar raiz e lançar sementes. Desterritorializar-se. Propagar, cortar, distribuir, se partir em qualquer ponto e depois se reconectar. Polinizar, cruzar, se misturar, gerar o imprevisível. Brotar, crescer, florescer, frutificar e apodrecer. Ser
Em um cenário político onde o Governo aperta as mãos com o agronegócio, vegetar o pensamento, propor alianças rizomáticas com formas agro-florestais minoritárias, ouvir as vozes vegetais que tentam ser caladas pela engenharia genética e pelo monocultivo é uma aposta de resistência."
Comissão Organizadora: Joana Cabral de Oliveira (CPEI-Unicamp); Marta Amoroso (CEstA-USP); Ana Gabriela Morim de Lima (CEstA-USP); Karen Shiratori (CEstA-USP); Stelio Marras (Lapod-USP)
Organização: CEstA, LAPOD, BBM e IEB (USP); CPEI (Unicamp)