“Chamar os animais, alegrar os parentes: notas iniciais sobre o hai ika”
Ana Yano: Doutoranda PPGAS/USP e pesquisadora do Centro de Estudos Ameríndios.
Rafael Pansica: Doutorando PPGAS/USP e pesquisador do Centro de Estudos Ameríndios.
Resumo: Cinegéticos por excelência, os Caxinauás afirmam que a carne de caça (yuinaka), misturada a vegetais como milho (xeki), macaxeira (atsa) e banana (mani), é o que há de mais gostoso e saboroso (nuwepeki) em sua sofisticada culinária. Da jovem menina equilibrando sob a cabeça a panela cheia de água, da partida dos homens rumo à mata antes do amanhecer, do silêncio que invade a aldeia enquanto as mulheres preparam, em suas respectivas casas, o fogo que cozinhará a tão aguardada peça de carne que lhes é de direito, comer bem, para eles, constitui uma arte: reúne os parentes (nukun yuda), fortalece o pensamento (xinan), traz alegria (benima). O presente trabalho intenta refletir sobre alguns aspectos das relações articuladas em torno da caça do ato de preparar a comida e ofertá-la a alguém, tomando como ponto de partida o hai ika, caçada coletiva cujo propósito, nas palavras dos Caxinauás, é saciar aquilo que chamam de "fome de carne" (pintsi).