Apropriação social dos espaços de pesca no estuário do rio Oiapoque: O caso do povo indígena Palikur
Separando o Brasil e a Guiana Francesa, o estuário do rio Oiapoque é povoado por 30.000 habitantes pertencendo a vários grupos humanos. Entre eles, cerca de 6.000 são Povos Indígenas de 4 etnias diferentes: Palikur, Galibi-Marworno, Karipuna e Galibi-Kali’na. A maioria deles vivem nas 3 Terras Indígenas do Oiapoque. Para todos os habitantes do estuário, a pesca é uma atividade importante. A pesca artesanal profissional se desenvolveu desde os anos 1980 nas cidades de Saint-Georges (Guiana Francesa) e Oiapoque (Brasil), junto com o crescimento urbano. Nas vilas e aldeias, a pesca permanece uma atividade indispensável para a alimentação cotidiana até hoje.
A pesquisa em etno-ecologia foi conduzida entre 2012 e 2014 para documentar os modos de apropriação social do espaço aquático entre os povos e pescadores do estuário do Oiapoque.
Na comunicação, com um enfoque particular sobre o povo Palikur, quer-se mostrar quais são as formas de apropriação social dos espaços aquáticos a partir dos saberes tradicionais de pesca, e como essa apropriação social conta com as interferências entre os outros pescadores da região. Assim, as histórias, os calendários, a toponímia e as técnicas de pesca revelam um conhecimento fundado sobre a ecologia complexa do campo alagado e do manguezal, na bacia do rio Urucauá (afluente do rio Oiapoque). Outras práticas particulares de cuidado e limpeza mostram a existência de formas de domesticação do espaço aquático ao redor das aldeias Palikur.
Integrando os resultados da apropriação social dos espaços aquáticos entre todos os povos do estuário do Oiapoque, vemos que há uma repartição clara entre eles. Contudo, essa repartição se modifica devido a vários fatores, entre os quais o crescimento da população, a construção de um Parque Nacional abrangendo os territórios tradicionais de pesca artesanal e a chegada de barcos industriais de pesca. Os resultados apontam que os diferentes pescadores da região estão seguindo o mesmo processo de associação, reivindicação de direitos e reconhecimento ao nível nacional dos seus territórios tradicionais de pesca.