Seminário: "Lições de fala - diálogos ameríndios"

 

A partir de um diálogo com convidados indígenas, este Seminário propõe-se a explorar a centralidade e a potência da fala nas sociocosmologias de diferentes povos das terras baixas da América do Sul. Como escreveu Pierre Clastres, a linguagem é, para estes povos, não um mero instrumento a serviço da comunicação, mas algo a ser “celebrado”, usado com o máximo de cuidado, uma vez que atua na composição de pessoas e coletivos. Não é apenas o conteúdo que importa, mas como dispor da linguagem, como usar a fala com a devida justeza, visando efeitos. Essa concepção da linguagem – e da fala – conforma uma concepção singular de ética e de política, isto é, de estar no mundo e de compor mundos. E nesta ética e política entrelaçam-se diferentes atos de fala: discursos de lideranças, diálogos cerimoniais, cantos, narração de histórias, rumores; transcorridos seja em momentos cotidianos, seja em eventos festivos de diversas escalas envolvendo música, dança, adornos, imagens. Estes atos de fala não estão encerrados no mundo indígena, abarcam também o aprendizado de falar aos não indígenas, estes que não cessam de impor sua própria ética e sua própria política. Cabe lembrar também que em muitas línguas indígenas o termo “fala” pode designar outras formas vocais que escapam da linguagem articulada e, assim, pode referir-se a sons emitidos por seres não humanos. Todas essas questões convidam a problematizar e a refletir, junto com os interlocutores indígenas, sobre o que falar quer dizer; convidam a aprender com lições de falaindígenas. 

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Sala 14, Prédio do Meio da FFLCH/USP