O século XIX quis fazer do índio o pobre do Brasil. Em um primeiro movimento, logo depois da Abertura dos Portos (1808), trechos bastante intactos da Mata Atlântica, que acolhiam povos falantes das línguas Jê e Guarani, foram percorridos pelas expedições dos naturalistas e artistas que para cá vieram nesse período. As primeiras expedições eram preparadas na Fazenda da Mandioca, de propriedade do Conde de Langsdorff, onde também se estabeleciam consensos sobre a natureza e a sociedade nos trópicos. São desse período imagens como as de Rugendas, que retratava os nativos passando por rios, matas e cordilheiras de onde entravam e tornavam a sair da civilização ocidental.
Entretanto, nas páginas dos naturalistas e artistas, os índios pouco a pouco cederam lugar a planos de povoamento do sertão por meio da imigração europeia. Um segundo movimento foi deflagrado com a criação de Aldeamentos de Catequese e Civilização do Império (1845-1898) concebidos para territorializar e sedentarizar a população indígena. Nesses aldeamentos, no entanto, se estabeleceu um jogo em que colonos brasileiros e estrangeiros foram estimulados a se fixar e cultivar as terras de ocupação dos índios.
“Os índios impõem o peito de bronze ao homem branco”, afirmava um missionário capuchinho italiano, que morou grande parte de sua vida em um desses aldeamentos, de onde registrou a distância que os Guarani e os Kaingang mantinham da sede da missão. São situações como essas que a pesquisadora Marta Amoroso descreve no neste livro da Coleção Antropologia Hoje. Elas se desdobram sobre um fundo de relações complexas e são tema de interesse da antropologia, atenta para o contato e as trocas entre as culturas e as sociedades.
Marta Rosa Amoroso
Terceiro Nome
2014
246