Webnário Fecundações Cruzadas: concebendo corpo-pensamento entre filosofias ameríndias e epistemologias transfeministas

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Organização: Bru Pereira, Lucas Maciel e Diego Madi Dias

09/12
10:00  CONTATO - Sobre Fecundações Cruzadas
Bru Pereira (Unifesp)
Lucas Maciel (USP)
Diego Madi Dias (USP)

10:30 CONEXÃO #1 - Arte drag e contra-colonialidade
Maximiliano Mamani / Bartolina Xixa
Mediação: Lucas Maciel (USP)

14:00 ENCONTRO #1 
Amanda Signori (Unifesp)
Thiago Oliveira (USP)
Diógenes Cariaga (UEMS)
Lucas Maciel (USP)
Mediação: Diego Madi Dias (USP)

17:30 CONEXÃO #2 - Retomada Wigudun
Yineth Muñoz (Comunidad Wigudun Galu)
Mediação: Diego Madi Dias (USP)

10/12
09:00  CONEXÃO #3 - Arte e Experimentação
Sebastián Calfuqueo (Colectivo Mapuche Rangiñtulewfü)
Mediação: Lucas Maciel (USP)

10:30 ENCONTRO #2
Melvin Aït Aïssa (EHESS)
Fabiana Maizza (UFPE)
Bru Pereira (Unifesp)
Mediação: Lucas Maciel (USP)

14:00 ENCONTRO #3
Tanaíra Sobrinho (UFMS)
Enoc Merino (UFRJ)
Diego Madi Dias (USP)
Mediação: Bru Pereira (Unifesp)

17:30 CONEXÃO #4 - Descentrar o humano
Antonio Calibán Catrileo (Comunidad Catrileo+Carrión)
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Mediação: Bru Pereira (Unifesp)

O Webinário é um esforço de explorar aproximações ainda inéditas entre dois universos conceituais: as filosofias ameríndias e as epistemologias transfeministas. Reconhecendo suas devidas diferenças, os dois campos mencionados compartilham de uma capacidade profícua de engajamento com práticas imaginativas que permitem vislumbrar outros futuros (in)comuns, de modo que a interface entre eles potencializa seu horizonte criativo. O objetivo do webinário é explorar uma "zona de contato" entre o pensamento ameríndio e o pensamento transfeminista, aproximando modos de percepção e de conhecimento dissidentes em relação ao racionalismo e à normalização moderno-ocidentais. Com este seminário se quer ampliar a conversa em torno das conexões possíveis entre esses dois universos conceituais.

Por filosofias ameríndias queremos exprimir os estilos de criatividade e pensamento correspondentes aos povos ameríndios, uma multiplicidade de formas de engajamento com problemas de ordem conceitual e material. Ao mesmo tempo em que desafiam a metafísica do Ser, tais filosofias parecem se dedicar à heterogeneidade, à multiplicidade e à propagação no nível da experiência pessoal. Se existem muitos mundos possíveis, esses mundos estão sempre relacionados a pessoas determinadas. Mundo para quem?, então. No centro das reflexões ameríndias está a possibilidade de se tornar outro, devir que se administra por meio das tecnologias corporais e de pensamento. As filosofias ameríndias estão marcadas por uma relacionalidade radical que coloca a identidade a serviço da diferença. Nesse contexto, os binarismos e oposições contrastivas são revogáveis ou provisórias, muitas vezes um recurso para modificar e proliferar.

Por epistemologias transfeministas buscamos sintetizar implicações sobre o modo de se produzir conhecimento a partir de uma perspectiva situada na experiência e no pensamento queer, nos estudos transviados e na crítica aos modos binários de pensamento que herdaram das movimentações trans uma forma própria de interrogar as normas, explorando as falhas, as intermitências, as linhas de fuga e os modos de (r)existência forjados por meio de saídas criativas frente àquilo que nos impede de seguir. Imaginamos a perspectiva epistemológica transfeminista a partir de uma dupla desconexão: primeiro uma desconexão analítica e experiencial com a heterossexualidade compulsória; em segundo lugar, uma desconexão semiótica e material com a "naturalidade" da diferença sexual. Essas duas desconexões permitem, enfim, instaurar novas conectividades.

Como resultado, esperamos que o seminário abra e impulsione caminhos possíveis para as conexões entre os dois campos de pensamento mencionados. Esperamos que a conversa inspire problematizações sobre a "consciência de si" que organiza a prática antropológica em termos epistemológicos. Este esforço reconhece, em primeiro lugar, a necessidade de deslocar sujeitos de enunciação e recepção pressupostos no conhecimento antropológico que conduzem a relações masculinistas, heteronormalizantes, raciais e coloniais, entre outras coisas. Esta discussão se faz imprescindível no momento em que o processo de democratização do acesso e da produção de conhecimento antropológico se encontra em risco, tanto no Brasil, quanto nos demais países das Américas. Por outro lado, parte da necessidade de simetrizar e pluralizar a antropologia, tendo em vista a presença fundamental e cada vez mais acentuada de pares indígenas, queer e negros, o que exige um recalibramento da partilha epistemológica por trás das práticas antropológicas. Este seminário demanda, assim, um corpo-pensamento que excede a heteronorma que dá contornos à tradição disciplinar e às formas convencionais de descrição antropológica.

Data
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