CEstA Básica Dupla com Fernando Fileno e Hugo Prudente

CEstA Básica Dupla com Fernando Fileno e Hugo Prudente

 

Consideração: a matéria do parentesco mura
Fernando Fileno

Resumo: Os Mura falam de si mesmo como uma única parentela, mas também como misturados. A aparente contradição dessas anunciações nos informa sobre uma disposição para o Outro. O problema do parentesco para eles é o problema do parentesco por consideração, fórmula que não apenas traduz o apagamento da afinidade e da distância – regra de resto comum para a Amazônia indígena –, mas que também elabora a relação entre a criação e o sangue. Há os parentes de sangue e também há os de criação, os primeiros são os consanguíneos, mas os últimos não são necessariamente os afins. São os parentes mesmo, pois parente é aquele cria. Entretanto, tais valores não são auto excludentes, juntos prestam-se como a gramática que elabora a relação dentro das aldeias do rio Igapó-Açu. Se por um lado, o sangue é embasado sobre o cálculo genealógico a principio fixo, por outro a criação constrói-se a base de cuidados, compartilhamentos, memórias, ou seja, da convivialidade e por isso surge como variável modulável. Nossa intenção é demonstrar como essas bases afetam-se mutuamente e como elas são o idioma privilegiado para trabalhar com outras diferenças. Quando abordamos a relação com a diferença, percebemos como ela jamais se isenta de impor certo controle, pois se tem com antecedência o perigo que ela pode oferecer.


Diferenças de Sangue: os Pataxó Hã hã hãe e a relação
Hugo Prudente da Silva Pedreira


Resumo: Apresento alguns argumentos da minha pesquisa de mestrado, em desenvolvimento, sobre o problema da diferença no parentesco Pataxó Hã hã hãe. O ponto de partida são as diferenças de sangue que as diferentes famílias ou etnias reconhecem entre si e o processo de mistura que conduz um movimento nunca acabado de tornar-se "uma parentagem só". A persistência das distinções entre as famílias remete a algumas narrativas sobre a diferença, no passado, entre índios vindos do mato e índios vindos de fora e aponta para o processo que tornou parentes povos indígenas de origem diversa. O problema da distância também é um tema recorrente das narrativas dos Pataxó Hã hã hãe, que por longo tempo viveram esparramados, longe de suas terras e dispersos. A habilidade da visão, os sonhos e as viagens noturnas do anjo de guarda – parte da pessoa referida ao deslocamento, ao outro, à ausência e ao futuro - demarcam uma série de dispositivos acionados na relação com os parentes que estão longe, inclusive com os mortos.

Rua do Anfiteatro, 181 - Colmeia, favo 8